É imperativo reaprendermos a “dialogar” com Gaia

A nossa primeira lição é reaprender a “dialogar” com Gaia. É a de nos reincluirmos em seus “diálogos”. Esse reaprendizado é imperativo para a continuidade da sustentação das condições da vida. E convém lembrar a advertência que nos faz Lovelock em seu best-seller:

“Gaia não é uma carinhosa mãe tolerante com as transgressões, nem alguma frágil e delicada donzela ameaçada pela humanidade brutal. Ela é dura e severa, mantendo sempre o mundo muito agradável e quentinho para os que obedecem as suas regras, mas é implacável na eliminação dos transgressores.”

Lovelock, James. As Eras de Gaia: a biografia da nossa Terra viva. Edit. Campus, Rio de Janeiro, 1991 pág. 199

Não há mais espaço para manifestações de prepotência, resultante da nossa ignorância. Repito: ´e imperativo a nossa reintegração nos ciclos e fluxos de Gaia. Então, e só então, de forma humilde, mas prazerosa, devolveremos a Gaia o que ela tão generosamente nos oferece. E o que Gaia nos oferece? Condições em termos de temperatura, água, solo, energia, matérias primas e um elenco de serviços indispensáveis à manutenção e desenvolvimento da nossa civilização.

Precisamos compreender como a natureza atua para manter a sustentabilidade dos ecossistemas.

Não há como fugir às lições que nos passa Fritjof Capra em seu magnífico livro “A Visão Sistêmica da Vida”[1]. Nele, Capra especifica quatro princípios básicos da ecologia. Afirma que eles poderão ser utilizados como diretrizes para construir comunidades humanas sustentáveis. São eles:

  1. Interdependência e interconectividade
    Todos os membros de uma comunidade ecológica estão interconectados em uma imensa e intrincada rede de relações, a teia da vida. Dessa forma, o sucesso de toda a comunidade depende do sucesso de seus membros individuais, enquanto o sucesso de cada membro depende do sucesso da comunidade como um todo;
  2. A natureza cíclica dos processos ecológicos
    Sendo sistemas abertos, todos os organismos em um ecossistema produzem resíduos, mas o que é resíduo para uma espécie é alimento para outra, de modo que o ecossistema como um todo permanece sem resíduos sólidos.
  3. A energia solar
    A energia solar em suas muitas formas – luz solar para o aquecimento e a produção de eletricidade fotovoltaica, energia eólica e hidráulica, biomassa, etc. – é o único tipo de energia que é renovável, economicamente eficiente e ambientalmente benigno.
  4. Parceria e cooperação
    A parceria – a tendência para se associar, para estabelecer vínculos, para viver um dentro do outro e para cooperar – é um dos “selos de qualidade” da vida, indicando seu grau de excelência e de legitimidade. Nas palavras memoráveis de Margulis e Sagan (1986, p. 15): “A vida não toma posse do globo pelo combate, mas pelo trabalho em rede”.

Cooperação: a chave do sucesso

Entretanto, observamos a competição na natureza. O fato é que a competição, que pode ser representada pela descrição das cadeias alimentares, está contida dentro de um panorama maior de cooperação. A cooperação é que detém o maior potencial de sucesso. São mais bem-sucedidas as espécies que desenvolvem uma capacidade superior de cooperação.

Das partes para o Todo

Essa constatação não deve surpreender aos que já assimilaram alguns conceitos básicos da física quântica que nos revela que não há partes, mas relações. Que o universo constitui um Todo. Essas descobertas têm o poder de fazer vibrar novamente o espírito humano, que estava amortecido sob o guante de uma ciência analítica, reducionista, mecanicista e positivista, e, por conseguinte, materialista.

Superar a visão fragmentária e fortalecer o sentido do pertencer. Essa é a condição para que possamos reaprender a “dialogar” com Gaia. Esse é o caminho que nos levará à nossa reconexão com Gaia. E, também, conosco mesmo, com o outro e com o Todo. Gaia, mais uma vez, se desdobrará em generosidade.


[1] CAPRA, Fritjof e LUISI, Pier Luigi. A Visão Sistêmica da Vida. Edit. Cultrix – Amana-Key, São Paulo, 2014 pág. 438-439.

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