Biomas brasileiros

Os biomas, são os jardins de Gaia. São o resultado do seu trabalho paciente. Um trabalho realizado através dos seus ciclos e fluxos, os quais, como já sabemos, são medidos em éons, eras e períodos. Há registros de manifestações da vida que remontam a 3,5 bilhões de anos. Éons, eras e períodos se passam e a proliferação da vida ocorre de forma vertiginosa. As células eucariotas constituem um grande avanço em termos de complexidade da vida. Essa conquista, propiciou a proliferação de uma variedade imensa de novas formas de vida. O clima e a atmosfera da Terra sofrem mudanças significativas. Muda aos poucos de anaeróbica para aeróbica. Essa mudança é resultado do trabalho multimilenar das bactérias e da exuberante cobertura florestal. Com isso, o oxigênio se fixa nos 21% atuais sem os quais a vida como a conhecemos não existiria.

Pangea e seus sucedâneos

Gaia não cessa jamais a sua operosidade. A colossal massa sólida que se formou há aproximadamente 300 milhões de anos atrás, constituía uma imensa ilha rodeada por água. Nominamos essa primeira versão continental de Pangea. Entretanto, essa situação não permitia uma distribuição adequada de umidade e temperatura. O clima se apresentava úmido e suave na faixa litorânea e seco com áreas desérticas no interior. Por outro lado, o magma que constitui o núcleo do planeta gira, e esse giro resulta em lento e contínuo “bailado” das placas tectônicas. Esse “bailado” que denominamos deriva continental resultou no período Jurássico em uma segunda versão que denominamos:   

  • Laurásia (América do Norte, Europa, Ásia e o Ártico), na parte norte
  • Gondwana (América do Sul, África, Austrália e Índia) na parte sul

E, por último, mas provavelmente não finalmente, há cerca de 65 milhões de anos esse “bailado” resultou na configuração atual dos continentes. Já se especula sobre uma futura reaproximação dessas massas de terra, uma NeoPangea.  

Origem e formação da Cordilheira dos Andes

Nesses ciclos e movimentos, Gaia esculpiu e desenhou em todas as latitudes e longitudes, uma variedade impressionante de paisagens e verdadeiros jardins. Jardins que apresentam uma biodiversidade, cuja dinâmica se caracteriza pelo surgimento, fixação e substituição de espécies nos reinos vegetal e animal cada vez mais bem adaptadas.

Vou me concentrar agora, em um verdadeiro capricho de Gaia. Um capricho que sugere uma manifestação de amor a começar pelo formato de coração imprimido a essa parte da Terra. A parte de Gondwana que veio a constituir a América do Sul.

Em constante aproximação, a Placa Nazca “combinou” com a Placa Sul Americana, que, por ser mais pesada, a empurraria para cima. Esse empurrão “tinha por objetivo” constituir uma barreira que minimizaria as influências do Oceano Pacífico sobre as extensas áreas que passariam a ser voltadas para o Atlântico.

Nasce o rio Amazonas

Uma extensa planície se forma e há aproximadamente 12 milhões de anos e a mais de 5.000m de altitude, nasce no sul do que é hoje o Peru, o rio Amazonas. Com quase 7.000km de extensão e possuindo mais de 1.000 afluentes, escoam pelos rios amazônicos, cerca de 20% das águas doces líquidas do mundo.

As condições de temperatura, clima e a exuberante floresta que se forma, favoreceram o surgimento do que é a maior biodiversidade do planeta.

Alter do Chão – uma imensa “caixa de água” doce

E, em se falando de águas doces líquidas é necessário mencionar o aquífero subterrâneo Alter do Chão. Alter do Chão é considerado a maior “caixa de água doce” do mundo. Seu volume de água é estimado em 86 quatrilhões de m³. É o dobro do aquífero Guarani, já por si considerado um dos maiores do mundo. Esse volume de água é capaz de atender às necessidades de água doce da humanidade pelos próximos 200 anos. Para isso entretanto, devem ser mantidas as condições de sustentabilidade no uso dos seus recursos.

Biomas brasileiros – jardins de Gaia

E, agora, diminuindo o foco, Gaia caprichou ainda mais no formato do coração. Ao longo do tempo, a ação antropogênica, resultou em um imenso país com o formato perfeito daquele órgão vital do ser humano.

O Brasil com seus 8.547.403 km² detém a maior biodiversidade do planeta. Essa biodiversidade é distribuída pelos seus seis biomas (Amazônia, Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica, Caatinga e Pampa). A exuberância e diversidade da fauna e da flora desses biomas constituem verdadeiros Jardins de Gaia. Riquíssimos e diversificados, estão interligados e interconectados em seus ciclos e fluxos de ar e água. O Cerrado, por exemplo, é tido como o “berço das águas do Brasil”. Ele concentra nascentes que alimentam boa parte das bacias hidrográficas, incluindo a Amazônica, a Tocantins-Araguaia e a do São Francisco. A sua vegetação que se caracteriza por ser uma floresta invertida (árvores pequenas com grandes raízes), é capaz de reter água no solo.

Cada um desses biomas, tem a capacidade de fornecer os serviços indispensáveis à prosperidade brasileira. Poucos ou nenhum outro bioma no mundo oferece tais condições. Eles dispõem de água em abundância tanto de superfície quanto de aquíferos subterrâneos. Dispõem ainda de solo fértil, alimentos e energia para a realização do projeto de nação e bem-estar do povo brasileiro.

Os biomas da Amazônia, Pantanal, Mata Atlântica e Pampas, interligam o Brasil com vários dos seus vizinhos sul-americanos. Essa interligação oferece imenso potencial de constituição de alianças e parcerias, sempre visando o bem-estar dos seus povos. Entretanto, e lamentavelmente, todos os biomas estão sendo depredados e com suas faunas, floras e fontes de água ameaçadas. Estamos destruindo os jardins de Gaia e as consequências serão desastrosas.

Mas,… estamos falhando em nosso “diálogo” com Gaia

É inconcebível a nossa incapacidade de agir frente a essas mazelas. Estamos colocando em risco o bem-estar das gerações que já estão aí em sua infância e das vindouras. Não estamos conseguindo proteger as nascentes e as matas ciliares dos nossos rios. Estamos falhando miseravelmente na proteção e manutenção dos nossos aquíferos subterrâneos. O planeta está enfermo. Precisamos reajardiná-lo como nos alerta o nosso eminente cientista Antonio Nobre, ou “plantar água”, como está fazendo Ernst G¨otsch.

Jardins de Gaia e Pensamento Estratégico

É inconcebível que a visão de perenidade dos negócios, dos diversos setores da economia, não seja forte o suficiente para construir alianças e parcerias para a reversão desse quadro. Exemplos:

  • Transportes: recentemente foi aprovado o marco legal para ferrovias, com autorizações que podem durar até 99 anos.
  • Energia (com prazos de 30, 40 ou mesmo 50 anos),
  • agronegócio e turismo, estão entre esses setores.

Já não bastam ações isoladas. Como eu disse acima, os biomas estão interligados e interconectados de diversas maneiras. A perenidade dos negócios e o bem estar da população, estão a exigir ações conjuntas e coordenadas. Ações essas que devem se sobrepor às titubeantes iniciativas dos líderes políticos de plantão, se necessário. Aliás, essas pautas deverão se constituir em temas imprescindíveis à ocupação dos cargos eletivos. E essa decisão cabe à população brasileira.

Algumas amostras do que está por vir:

  • A recente seca do rio Paraná;
  • A diminuição do nível dos aquíferos Guarani e do Urucuia;
  • As tempestades de areia no oeste paulista, e
  • A desertificação no Nordeste (já uma área maior do que o Reino Unido).

Isso se continuarmos no atual caminho da destruição dos biomas – os Jardins de Gaia. O impacto nos negócios e na qualidade de vida são imensos, mas isso será tema para outros artigos.   

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