“Diálogos de Gaia – Criando e sustentando as condições da vida, constituem o objeto de algumas reflexões que compartilho neste artigo. É uma reflexão fascinante e extremamente complexa. A interação ( “diálogos de Gaia”), permanente entre biosfera, litosfera, atmosfera e hidrosfera, com os seus ciclos e fluxos dinâmicos de energia e matéria, mantem as condições físicas, químicas e de temperatura necessárias ao surgimento e sustentação da vida.

Muitos ciclos de Gaia são medidos em éons, eras e períodos

Ao longo dos éons, eras, períodos, tudo foi sendo desenvolvido de forma magistral para o favorecimento do surgimento e desenvolvimento da vida. Desde a preparação do reino mineral que, sob a ação de temperaturas e pressões inimagináveis, foi pouco a pouco disponibilizando os minérios e a formação das plataformas continentais. É fascinante imaginar a dança das plataformas continentais e a movimentação dos oceanos na formação dos supercontinentes e sua posterior desagregação até chegar às configurações atuais.

E eis que, da interação permanente acima mencionada, surge a vida

O surgimento das primeiras manifestações da vida ocorre aproximadamente um bilhão de anos após o início de tudo. Mais alguns bilhões de anos surgem as primeiras algas e só depois, registramos a explosão das plantas terrestres. Os seres monocelulares se complexificam e assumem novas e mais variadas formas. Desenvolvem a reprodução sexuada e iniciam a sua jornada rumo às experiências em terra firme. Acompanhando essa manifestação da vida e talvez sendo ela mesma a vida, a Terra vai sofrendo modificações físicas, químicas e biológicas. Uma dessas modificações de importância crucial, é a da atmosfera anaeróbica em aeróbica. Essa modificação é o resultado das ações dos micro-organismos, da flora e da fauna exuberantes. Lentamente vai se constituindo a biosfera.

Na direção da complexidade crescente, surge o homo sapiens sapiens com a conquista da razão e da memória

Os grandes répteis reinaram por milhões de anos e o seu desaparecimento favoreceu a proliferação dos mamíferos. E entre os mamíferos, os primatas constituem o prenúncio da espécie humana.

Em determinada (s) família (s) de primatas, ocorre o aumento do volume do cérebro, o que permitiu que os ruídos guturais gradualmente dessem lugar à fala. A linguagem é desenvolvida e com ela a capacidade de raciocinar e finalmente a da abstração.

Essas novas capacidades constituem os alicerces para a conquista da memória. Surge o Homo Sapiens e na sequência o Homo Sapiens Sapiens, quando ele se percebe como ser.

Aos poucos, com a intensificação do relacionamento entre indivíduos e povos, a comunicação torna possível o entrelaçamento de ideias, concepções e sentimentos. Essas novas possibilidades mantém o avanço contínuo da vida, na direção de uma complexidade crescente. Esse avanço é representado pelo surgimento de uma nova camada em Gaia, mais sutil, mas não menos importante: a psicosfera. Ela é constituída pelo somatório dos pensamentos e sentimentos humanos. Teilhard de Chardin nos leva ainda mais longe ao sinalizar o próximo estágio que ele denominou de noosfera.

Ciclos e fluxos constituem os “diálogos” permanentes de Gaia.

Finalmente percebemos que a atmosfera, os ventos, a água, o solo, os minérios, os vegetais, os animais e o ser humano constituem os ecossistemas, biomas e o imenso sistema Terra. Novamente, ficamos maravilhados quando observamos os ciclos e fluxos (“diálogos” de Gaia) entre esses diversos sistemas.

Um exemplo de “diálogo” é o do calor do Sol com a atmosfera, a nos prover as condições químicas e de temperatura adequadas. O “diálogo” segue com os ventos a distribuírem essas condições de acordo com determinações não identificadas. Elas buscam o concurso da água, a qual oferece condições mais ou menos úmidas àquele transporte em seu ciclo. Esse ciclo é constituído pelos aquíferos subterrâneos, rios, lagos e oceanos.

O produto desse “diálogo” se soma à outra doação que chega das entranhas do planeta. Essa outra doação é constituída pela emersão dos minerais que em constante intemperismo físico, químico e biológico, constituem o solo fértil sem o qual não há civilização. E tudo isso atuando como um fator de regulação da temperatura do planeta.

Todos esses sistemas com seus ciclos e fluxos, em seus “diálogos” permanentes, formam a base para a palpitante manifestação da vida vegetal e animal, na qual o ser humano está inserido e dela faz parte. Gaia laborou por bilhões de anos, e continua criando e sustentando as condições da vida. Somos o produto e herdeiros desse paciente e incessante trabalho. Essa a oferta generosa de Gaia.

Decifra-me ou te devoro

É imperativo que superemos a nossa ignorância e prepotência e nos reintegremos aos seus “diálogos”. Caso contrário, a consequência será o esgarçamento da teia da vida com o rompimento dos seus ciclos e fluxos. A consequência será a supressão da base sobre a qual são realizadas as atividades produtivas humanas. Mais grave, a base sobre a qual se assenta a própria civilização humana.

E lembremos do mito grego sobre a esfinge de Tebas: “Decifra-me ou te devoro”. No caso, precisamos decifrar a Terra. Urge a reconexão com Gaia. Ela continuará criando e sustentando as condições da vida, mas, talvez, não tão mais amigável. Não nos iludamos, a última palavra é sempre da natureza.

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